terça-feira, 8 de setembro de 2009

Entrevista Michael Pullan


ESSA FOI UMA ENTREVISTA À PRODUÇÃO ORGÂNICA. VALE A PENA VER.

Pessoas inteligentes sempre são bem vindas !!!!

PO - Você encontrou uma outra forma de cultura.

MP - Um cultura sem agrotóxicos. Os fazendeiros confiam na cultura rotativa, plantando uma grande variedade de batatas e também de outros produtos. Monocultura é um problema. A diversidade é fundamental em tudo. Até para software. Monocultura de qualquer espécie é perigoso. Eu acho que os agricultores acreditam no que eles vêm. Quando alguma coisa da certo eles a adotam. Eles se analisam entre si muito cuidadosamente e estão sempre perguntando "o que será que o meu vizinho está plantando?". Portanto, quanto mais orgânico estiver sendo plantado, mais pessoas estarão experimentando o orgânico também.Eu sei que orgânico dá mais trabalho do que a agricultura convencional. O orgânico toma mais tempo na administração da plantação. Intelectualmente também dá mais trabalho ;ao invés de você comprar um pacote de agrotóxicos ,você tem que criar um sistema de proteção natural na sua plantação.

PO - De alguma maneira os transgênicos contribuiram para tornar o orgânico mais conhecido ?
O orgânico estava e está crescendo. Os transgênicos foi a melhor coisa que podia ter acontecido para os orgânicos, no ponto de vista de negócios. Os GMO’s criaram uma demanda real por orgânicos nos EEUU. Orgânico é o único alimento que você pode estar certo de não ter ingrediente geneticamente modificado. O mercado começou a crescer espantosamente. Tornou-se um negócio de porte..

PO – A Monsanto respondeu ao seu artigo afirmando que a agricultura geneticamente modificada não estragava o solo.

MP – Bem, comparando com a agricultura industrial tóxica que eu vi, eu até entendo o ponto de vista deles. Embora eu não acredite que isto seja verdade. Mas se eles realmente desenvolveram uma batata geneticamente modificada que não precise levar 14 pulverizações de agrotóxicos, eles podem até fazer uma afirmação sobre a sustentabilidade desta batata. Mesmo na hipótese de ser mais sustentável, nós ainda não sabemos os reais efeitos provocados ao meio ambiente pela agricultura geneticamente modificada. Não se sabe muito sobre isto. Mas o que é curioso é que as pessoas da Monsanto geralmente acreditam que seu produto é orgânico, porque eles usam o pesticida BT, que é aceito pelos orgânicos. E eles sentem-se ofendidos por serem rejeitados pelos orgânicos.

PO – E o que você acha disso?

MP - A falácia deste pensamento é que eles estão arruinando com o BT; eles estão colocando doses tão altas de BT no meio ambiente que eles estão criando resistência a ele nos campos de batata do Colorado. Por isso que os orgânicos estão tão zangados. Pois eles usam o BT há tantos anos de uma maneira moderada e controlada e a Monsanto vem agora estragar isto.

PO - Você acha que orgânicos e produtos geneticamente modificados são incompatíveis?

MP - Uma pergunta que eu faço aos fazendeiros orgânicos é: "Você pode imaginar que possa ser orgânico um produto modificado geneticamente?" Alguns dizem que sim, outros dizem que não, pois desde que você está abatendo genes, torna o produto muito sintético. Outros fizeram uma observação interessante: "Bem, se você estiver usando modificação genética para aperfeiçoar a espécie do milho, e se você não estiver tirando genes de outras espécies, você não estará cruzando as barreiras da espécie, você estará somente usando isto para acelerar o processo dentro do próprio milho. Isto nós podemos até considerar, depois de muita pesquisa feita Então, talvez até seja possível, num dia futuro, que estas duas propostas possam coexistir. Mas o que eu tenho visto é que nós não precisamos desta tecnologia.

PO - : Como você responderia à argumentação de que os alimentos geneticamente modificados são a solução para o problema da fome no mundo?

MP – Este é um assunto muito complexo. Eu não acho que eles estejam sendo sinceros quando usam este argumento. Porque eles não estão trabalhando para resolver a fome do mundo. Eles estão trabalhando na resistência dos agrotóxicos para uma produção industrial em países ricos. Este argumento é pura retórica e acho que eles estão apelando para nosso sentimento de culpa, compaixão e preocupação com o resto do mundo. E eu não aceito este argumento. Em outras palavras, eles estão dizendo que nós devemos deixar de lado nossas preocupações com o que nos interessa por "razões altruístas" e aceitar esta tecnologia para que o povo da África possa ter o que comer.
A revolução verde aumentou enormemente a produtividade das plantações, mas evidentemente não o suficiente para matar a fome do mundo. Os países com os maiores índices de fome são exportadores de comida. Então não é uma questão de quanta comida você produz, a questão é saber quem comanda o dinheiro para comprar comida, e quem faz a distribuição. E isto não é problema de tecnologia.

PO - Algumas pessoas consideram que ser contra alimentos geneticamente modificados é o mesmo que ser contra o progresso. O que você acha dessa colocação?

MP - Eu não sou contra pesquisas e pesquisas tem que ser muito bem feitas. O que eu digo é que estes produtos devem ter um rótulo visível, para que as pessoas saibam se estão comendo comida geneticamente modificada ou não. Acho também que deve haver normas muitas severas. E isto não está acontecendo. Mas o crescimento do orgânico está muito relacionado com os produtos geneticamente modificados pois as pessoas estão assustadas e estão procurando cada vez mais produtos saudáveis. Isto me deixa nervoso pois uma indústria que é muito dependente de medos alimentares fica vulnerável. Eu acho que as pessoas precisam razões positivas.


PO - No início do seu artigo você fala do imaginário que povoa a cabeça do consumidor quando compra um produto orgânico: pequenas fazendas, vaquinhas pastando, uma cena "pastoral" como você mesmo qualifica. O que o motivou a pesquisar mais sobre o orgânico no supermercado?

MP- A expressão "organic-tv dinner" me pareceu inadequada ao conceito orgânico e, olhando de perto a indústria orgânica, a cena pastoral começa a ficar cada vez mais fora de foco. O fato é que as grandes empresas já perceberam que uma fruta ou um vegetal orgânico não são parte de uma revolução cultural, mas sim de um nicho de mercado que movimenta, só nos Estados Unidos, mais de 7 bilhões de dólares. As grandes empresas também sabem que saúde é uma questão de percepção do consumidor.

PO - Antes de entrarmos nas questões levantadas no seu artigo, conte-nos quando e como se deu sua aproximação com os orgânicos?

MP- Acho que foi nos anos 70. Naquela época você encontrava comida orgânica em casa de produtos naturais e geralmente com um aspecto feio. Eu não dava muita importância a isto. Nesta época eu morava em Manhattan. Em 1983 nós compramos uma casa no campo, quando comecei a fazer jardinagem. Quando compramos esta casa procurei revistas especializadas em orgânico pois eu não queria usar agrotóxicos. Então posso dizer que minha aproximação com o orgânico foi mais pelo lado da jardinagem do que pelo lado do consumidor.

Meu próximo envolvimento com orgânico foi em 1988, quando estava escrevendo um artigo para a revista do New York Times sobre engenharia genética e comida geneticamente modificada. Na realidade este artigo, "Playing God in the Garden" , foi o último capítulo do meu livro "The Botany of Desire" (ainda não traduzido em português), quando escrevo sobre a batata.

PO - O que mais o chocou ao escrever o artigo sobre transgênicos, Playing God in the Garden?

Escrevendo sobre o tema, eu estava aprendendo muito sobre a agricultura convencional. Entrevistei fazendeiros de Idaho que cultivavam batatas, vi como era a cultura a convencional de batata e fiquei horrorizado – 14 aplicações de agrotóxico!! Agrotóxicos tão fortes que os fazendeiros não vão aos campos por 5 dias depois da pulverização tóxica. Mesmo se acontecesse algum incidente, como por exemplo quebrar algum instrumento de irrigação. Eles sabem que é tão perigoso o contato a e exposição ao agrotóxico que eles preferem perder a plantação do que os empregados. São fazendeiros que não podem comer suas batatas por causa dos agrotóxicos constantemente aplicados.

PO - É realmente aterrorizante...14 camadas de agrotóxicos!

MP - Foi uma verdadeira lição esta minha ida a Idaho, porque eu não sabia como a produção industrial convencional americana funcionava. Eram fazendas enormes, computadorizadas e com grandes investimentos. São o que eles chamam de "Campos limpos". Tudo está morto, exceto para a planta que você quer cultivar. O solo está morto. Você não vê um único inseto. O solo parece pó. Não é uma coisa viva.

PO - A partir desta experiência você decidiu pesquisar as fazendas orgânicas

Fui então visitar uma fazenda orgânica de batata e encontrei um lugar totalmente diferente. O solo era completamente diferente. Tinha cheiro de vida. Tinha alguma coisa acontecendo de fato naquele solo. Eu perguntei a eles como eles controlavam as doenças, qual era a filosofia deles, os métodos por eles usados. Foi este meu encontro mais profundo com um produtor orgânico e meu aprendizado de como eles faziam aquilo. Na verdade eles estavam se preparando para uma excelente colheita, comparada com a da agricultura convencional. A diferença era periodicidade da colheita, que nos orgânicos não e acelerada o processo.

PO - Você encontrou uma outra forma de cultura.

Um cultura sem agrotóxicos. Os fazendeiros confiam na cultura rotativa, plantando uma grande variedade de batatas e também de outros produtos. Monocultura é um problema. A diversidade é fundamental em tudo. Até para software. Monocultura de qualquer espécie é perigoso. Eu acho que os agricultores acreditam no que eles vêm. Quando alguma coisa da certo eles a adotam. Eles se analisam entre si muito cuidadosamente e estão sempre perguntando "o que será que o meu vizinho está plantando?". Portanto, quanto mais orgânico estiver sendo plantado, mais pessoas estarão experimentando o orgânico também.Eu sei que orgânico dá mais trabalho do que a agricultura convencional. O orgânico toma mais tempo na administração da plantação. Intelectualmente também dá mais trabalho ;ao invés de você comprar um pacote de agrotóxicos ,você tem que criar um sistema de proteção natural na sua plantação.

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